Páginas do TerraAvermelhada.blogspot.com

terça-feira, 5 de outubro de 2010

14 e 15 de Agosto – Um fim-de-semana diferente…

Muitas vezes se diz que não existe oferta cultural em Angola, mais precisamente em Luanda. Bom, é certo que a oferta existente não é de todo semelhante à de muitas capitais mundiais, mas daí a dizer que não existe oferta cultural, vai uma grande distância! Basta procurar um bocadinho, comprar O PAIS às sextas ou pesquisar nuns quantos sites ou blog’s e encontrar o que fazer!

Sob essa perspectiva e de forma a optar por um fim-de-semana mais cultural, aproveitámos a tarde de sábado para ver a exposição que estava patente no Museu Nacional de História Natural!

Já há algum tempo que queríamos ir mas durante a semana é sempre impossível. Como tal confirmámos que estava aberta ao sábado e quando chegámos à entrada surpreendeu-nos que cumprissem com as regras internacionais dos museus, ou seja, abertos todos os dias com excepção da segunda-feira!. Surpreendeu-nos porquê? Não por estarmos em Angola… Mas porque outros organismos que estão neste país para promover a cultura, não o fazem totalmente. Veja-se por exemplo o caso do Centro Cultural Português que abre apenas durante os dias de semana das 9.00 às 17.00 horas, se não estamos em erro… Inviabilizando quase por completo uma visita…

Mas mais surpreendidos ainda ficámos com o preço que pagámos para ver a exposição. 100 Akz cada um…!!! Mas podíamos acreditar, tendo em consideração todo o restante nível de preços praticados no país! Sendo necessário menos de 1€ para ver uma exposição não há mesmo razões para ficar por casa!!!

A exposição era fotográfica, intitulada HEREROS, uma obra de Sérgio Guerra, um reconhecido fotógrafo Brasileiro que passou cerca de dois meses nas províncias do Namibe, Huíla e Cunene, a realizar uma recolha documental com vários subgrupos étnicos dos Hereros aí estabelecidos. O objectivo que deu origem à exposição era fazer um levantamento fotográfico e recolher um conjunto de testemunhos de uma das mais ancestrais etnias que habita não só o Sul de Angola mas também regiões da Namíbia e do Botswana.

O trabalho realizado por Sérgio Guerra foi também convertido num livro, Hereros – Angola, que pode ser adquirido em Portugal e Angola bem como noutros países, editado em Inglês – Português.

A exposição para alem de ter estado patente em Luanda, de 27 de Julho a 26 de Agosto, esteve também em Lisboa, mais precisamente na Perve Galeria, em Alfama, entre os dias 19 de Agosto e 18 de Setembro.


Mas afinal quem são os Hereros????

Os Hereros são um povo proveniente da migração dos bantos da região oriental da África, que se instalou na Namíbia entre os séculos XVII e XVIII, e que desde esse período atravessou décadas de conflito por forma a manter os seus traços culturais que o caracterizam. Actualmente estima-se que os Hereros totalizem cerca 240 mil pessoas, que se distribuem pela Namíbia, Angola e Botswana.

O Ovaherero engloba vários subgrupos e, embora durante o período colonial os europeus tentassem defini-los como grupos étnicos distintos, consideram-se todos Ovaherero. Apesar de divididos em diversos subgrupos, possuem o mesmo idioma herero, além do português em Angola, inglês no Botsuana e inglês e africâner na Namíbia.

Os traços principais da cultura desse povo remontam há 3 mil anos e os seus ancestrais teriam chegado a Angola há pelo menos três séculos – lá se instalaram nas províncias do Cunene, Namibe e Huíla. Com histórico caracterizado pela resistência, opuseram-se à escravidão e outras formas de dominação.

Após a Conferência de Berlim, celebrada entre 1884 e 1885, a Alemanha invadiu o continente africano e além de outras regiões anexou a Namíbia, enviando para a África invasores que pilharam as terras e riquezas da população nativa, difundido a supremacia branca e comparando o povo herero a babuínos. Os homens eram constantemente espancados até à morte e as mulheres vítimas de estupro e escravizadas sexuais dos colonos e soldados alemães.

Como forma de responder às violações que vinham sofrendo, em 12 de Janeiro de 1904 o povo Herero resolveu resistir à investida alemã, liderados por Samuel Maharero. De acordo com os historiadores, essa guerra de libertação teve como consequência o primeiro genocídio do século do XX, e um dos capítulos mais tristes da história, em que 80% dos Hereros foram aniquilados durante um confronto com as tropas alemãs na Namíbia.

Em Angola, eles também se negaram ao domínio perante o colonizador português. Porém não se pode dizer que chegaram ao século XXI absolutamente à parte das populações urbanas que se desenvolveram no país africano a partir da instalação dos europeus. Ou seja, os Hereros de hoje fazem comércio, frequentam escolas, consomem bebidas alcoólicas e alguns trocam os seus bois por carros. No entanto, é inegável que, mesmo não tão isolados do que se habituou a chamar de “civilização”, preservam parte significativa de sua cultura.

O gado é fundamental para entender boa parte do modo de vida dos Hereros. “O boi é tudo para eles, é a sobrevivência. Do boi, tiram tudo. Tutano, leite, o óleo com o qual se banham, o excremento que usam para construir as casas onde moram. É o banco deles. E é muito interessante como descentralizam o património. Têm uma dimensão muito precisa do que necessitam para sobreviver e de como devem ser estruturadas as coisas”, explica Sérgio Guerra.

Um dos aspectos mais reveladores é, sem dúvida, a poligamia da mulher e numa sociedade patriarcal. Enquanto os maridos viajam, transportando gado, elas podem ter relações sexuais fora do casamento. E, caso engravidem, é comum que os maridos assumam os filhos.

Como já comentámos, os traços culturais principais remetem a tradições de mais de três mil anos. Por isso, nas fotografias exibidas por Sérgio Guerra, para além de muitos outros aspectos característicos deste povo, é possível ver imagens de práticas tribais, como a circuncisão infantil e o hábito de se extrair os quatro dentes incisivos permanentes.


Mulheres Muhimbas da aldeia do senhor Tchimbari Kezumo Bingue, Biquifemo, Namibe, em Angola.
Imagem: Sérgio Guerra/Divulgação


Mulher Herero
Imagem: Sérgio Guerra/Divulgação


Mulher e criança Herero
Imagem: Sérgio Guerra/Divulgação

Esta exposição não só nos permitiu disfrutar de excelentes fotografias que captaram com muita realidade a história e cultura deste povo, como nos fizeram descobrir um pouco da sua história e percurso que até então desconhecíamos!

PS: Para saberem um pouco mais sobre os Hereros, podem aproveitar a oportunidade criada por Thomas Balmes, realizador do documentário Babies. O documentário é sobre quatro bebés (sendo um deles Herero), quatro culturas, em quatro países distintos. Ponijao, Bayarjargal, Mari e Hattie vivem na Namíbia, Mongólia, Japão e Estados Unidos, respectivamente. O filme mostra cada um deles desde o nascimento aos primeiros passos. A partir de uma ideia do realizador francês Alain Chabat (“RRRrrrr!!!"," Astérix e Obélix: Missão Cleópatra"), o documentarista Thomas Balmes mostra como, no que concerne ao mais importante, as diferenças entre as culturas podem ser esbatidas e, da mesma maneira que há coisas radicalmente diferentes entre pessoas de diferentes continentes, também existe algo que não foi alterado, nem através do tempo nem pela cultura: o amor, o instinto, a necessidade de proteger e ser protegido.

Para quem está em Portugal ainda tem a oportunidade de o ver até quarta-feira, no C.C. Vasco da Gama, em Lisboa, ou no C.C. Marshopping, em Matosinhos.


No dia seguinte levantámos bem cedinho para ir visitar uma fazenda de criação de cavalos perto do Quifangondo, nos arredores de Luanda, onde reside um dos objectivos de Angola para os Jogos Olímpicos de 2016!

Graças à simpatia dos funcionários pudemos experimentar e disfrutar de uma aula de equitação, onde uns se saíram melhor que outros, mas quanto a isso não vamos falar :)

A boleia no percurso para a fazenda:


O imponente Imbondeiro à entrada da Fazenda


Os estreantes (mas quem sabe futuros praticantes)



O caminho de regresso a casa

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...